Pintar nos muros foi desde sempre pra mim uma forma de ser e estar no espacio público, provavelmente uma reação natural aos anos de muito isolamento do periodo da que terminou em 1983.
Com a retomada da democracia, teve aquele euforia de ocupar a rua, finalmente não era mais o espaço do medo e sim o da celebração.
Uma vida coletiva que voltava a ser possível.
Em Argentina, pintar na rua não era algo reservado apenas a artistas ou pixadores, em época de campanha eleitoral todo mundo saia a pintar, e essas foram minhas primeiras incursões. Eu, que pinto e desenho desde que me entendo por pessoa, foi ali que me encontrei durante a adolescencia, nesse espaço que dissolve e desconhece o limite do privado.
As pintadas – como é chamado algo parecido a pixação – feitas com pó de ferro, agua e cal, eram em tudo, escola, prefeitura, praza, monumentos, os muros eram o espaço ativo políticamente, onte passar uma mensagem, que dizia a comunidade.
De la pra ca a vida deu varias voltas, vim pra Brasil em 1987, voltei a Buenos Aires para estudar Belas Artes, sai de novo…
Mudei varias vezes de pais, e foi com essas mudanças que comecei a pintar em telas de grandes dimensões, pois na época, sem as câmeras dos celulares de hoje em dia, o registro dos muros não era algo fácil de acontecer, e ali ficava difícil poder mostrar o trabalho.
Costumo dizer que encontro o que já estava ali no muro e apenas precisava se manifestar.
Pintar é um diálogo, as vezes uma mancha, um buraco na parede, uma fenda, já fisgam o motivo, para traze-lo a a superficie.
O graffiti tem me regalado boas amizades, lugares incríveis e com muitas experiencias desafiadoras mas também, com o aprendizado de viver o aqui e agora, que como bem diz a palavra, é um presente.