Textos
Riqueza de sentidos
A possibilidades de leituras do trabalho de Leila Monsegur se sustenta em dois pilares.
Por um lado, estão os procedimentos técnicos. Por outro, as leituras simbólicas pela riqueza de elementos arquetipicos que se somam nas imagens que oferece a cada um que se dispões a observar seu quadro.
Existe a força orgânica proposta pelos mecanismos construtivos que surgem na força da mulher e da ave reconheciveis enquanto figuras, mas múltiplas enquanto poder evocativo de conversas visuais, pois a dama que observa é análoga ao animal que tem suas asas em forma de galhos.
A figura feminina, mãe natureza em sua essência, revela-se também portadora de neurônios, fato visual que pode ser associado ao seio que traz em seu significado ser fonte de vida e guarida da alimentação. Manifesta-se assim uma sexualidade longe de ser idilica, mas densamente visceral.
A potencialidade da manifestação espacial entre as duas principais imagens do conjunto plasticamente proposto cria vazio em meio a uma riqueza de sentidos que despertam uma inquietação existencial. Todos, assim, somos árvores da vida, mas portadores de um fim, que a arte em sua riqueza plástica tenta, a todo instante, mitigar.
Oscar D’Ambrosio é doutorando em educação, Arte e Historia da Cultura (Universidade Mackenzie), jornalista (ECA-USP), mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Unesp, integra a Associação Internacional de Criticos de Arte (Aica-Seção Brasil)
http://www.memorial.sp.gov.br/memorial/AgendaDetalhe.do?agendaId=2066
Sobre Velhice
“[…] Leila trabalha, sobretudo, com desenho, pintura, pintura mural e performance, com ênfase em temas sociais, como meio-ambiente, feminismo e culturas originárias.
Em Carne, Leila animou a seção Bem passada, na qual a atriz Helena Ignez narra o apagamento social da condição da “mulher” na velhice. A animação é feita com o traço forte característico de Leila Monsegur – a mulher em vibração constante, como uma borboleta em processo de transformação. Algumas consagrações na vida só se completam com o amadurecimento. É a experiência que nos permite avaliar com conhecimento de causa o caminho para o que virá. Essa serenidade, entretanto, não implica necessariamente em desistência ou desânimo. O potencial criador, a vontade e o desejo continuam a existir enquanto há vida” ( Pensamentos sobre arte, WERNECK, 2021, p. 126).
Sisters
‘The B. B. sisters’, de Leila Monsegur, provoca uma conversa estética com a música ‘Rubias de New York’, do filme ‘El tango en Broadway’, musical de 1934 dirigido por Louis J. Gasnier com Carlos Gardel, Trini Ramos e Blanca Vischer. Feito nos EUA, para público hispânico, foi realizado pela Paramount Pictures e pela New York Studios.
Estamos aqui perante um universo de citações de repercussão infinita. Os mitos de Gardel, do tango e da Broadway são todos associados e, ao mesmo desconstruídos na imagem de Leila. Com técnica apurada, senso de humor e sensualidade ímpar, surge em sua imagem um ícone do que mais fascina na arte: o mistério.
Criar não é reproduzir o mundo, mas transformá-lo. E, nisso, Leila mostra toda a sua habilidade, pois oferece ao observador uma imagem em que as indagações se multiplicam. Há desde as perguntas mais simples, como o que significam os seres por ela criados, até as mais densas, que obrigam a pensar sobre o sentido da vida, caso ela tenha algum.
As irmãs geradas pela mente e pela competência de Leila habitam em cada um de nós. Há nelas animalidade, mas também humanidade. Por que não dizer delicadeza, associada à ferocidade? Existe uma atração que mata, algo próximo da ideia grega da esfinge, que lança sua pergunta com a ameaça de devorar quem fracassa. Leila faz isso com suavidade e talento.
Oscar D’Ambrosio é doutor em Educação, Arte e História da Cultura e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp. Integra a Associação Internacional de Críticos de Artes (AICA – Seção Brasil)
A Estética da Delicadeza
A imagem de uma mulher, uma atmosfera repleta de interrogações e a presença do texto poeticamente colocado são três aspectos importantes na representação criada por Leila Monsegur para dialogar com a poeta Olga Orozco (Toay, La Pampa, 1920 – Buenos Aires, 1999). A harmonia interna da criação estabelece um clima mágico que conquista o observador.
A poética maneira de mostrar a figura feminina constata um diálogo delicado entre a artista plástica e a escritora. Tal vez uma das características mais interessantes da obra em exposição seja a misteriosa presença da mulher, com todas suas ambiguidades, no lado esquerdo da tela.
Muito mais que uma figura com sexualidade definida, estamos perante uma esfinge.
É esse clima instaurado na imagem que remete ao universo poético de Olga Orozco. As duas mulheres se encontram no mérito de conceber a realidade como um universo pleno de possibilidades, em que existiria um risco estético que ambas não se permitem: o de abrir mão das sugestões e cair em alguma resposta mais evidente.
Leila e Olga conseguem, cada uma na linguagem que escolheram para recriar as suas relações com o mundo, transformar uma poesia muito especial e específica. Optam pela sutileza e nunca pelo obvio, numa caminhada em que o saber gerar perguntas no observador é uma qualidade a ser estimulada.
Oscar D`Ambrosio, doutorando em Educação, Arte e Historia da Cultura na Universidade Mackenzie, é mestre em Artes Visuais pelo Instituto de artes da Unesp. Integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA-Seção Brasil).
Celebração dionisíaca
Leïla Monsegur é daqueles raros pintores que se iluminam quando a obra emerge da tela branca. (Sei porque já fui alvo de sua mira mágica.) Pinta como quem faz poemas ou encantamentos. Suas figuras hipnóticas, míticas, personagens eróticos, de amor, sempre à beira do abismo de cores, sempre oníricos, convidando ao mergulho, ao voo, ao feérico. Há algo de Chagall em seus retratos… formas que levitam pelo ar, pelo fogo, pela água. Seus fundos fortíssimos, quase figuras, quase corpóreos, de tão densos, de beleza ímpar. Leïla enfrenta a beleza de forma agressiva, numa celebração dionisíaca: menos contemplação e mais vigor, mais ação. Uma pintora que escolheu o Brasil para atelier. Bem-vinda. O prazer é todo nosso.
As Faces da Lua
Quando vi pela primeira vez as suas pinturas vazadas pela luz da web pressenti lua. Vi mais e encontre as faces da lua que se ergueram femininas por camadas sem fim ou desceram em círculos perdendo-se nas entranhas da terra. Não havia nem teto nem fundo, nem paredes nem regresso. Como a um enigma de Julio Cortazar. (em “O Jogo da Amarelinha” 110-48)
Este hipertexto poderia abrir uma divagação poética de noites claras e escuras forjadas pelas transformações de Selene que desaparece, cresce, torna-se cheia, mingua, volta a desaparecer. Sim. Mas toda a palavra aqui está para dizer acessoriamente o que revelam as pinturas de Leila Monségur: sua sensibilidade, criatividade, maestria plástica com as cores, as formas e os traços.